domingo, 8 de julho de 2012

O porquê deste blog?

A minha história começou há muitos anos, como a de tantas mulheres. Estava a meio da licenciatura quando resolvemos casar, claro que ter filhos não estava nos planos mais breves..e fomos adiando... Casados há cerca de 3 anos, invadida de Felicidade pelo nascimento do filho de uma amiga a Ana Filipa.. resolvemos que era a hora certa para complementarmos a família.. na altura nós os dois e 3 gatos.. Ao fim de um ano de muitos "treinos" uma gravidez.. que só descobri no dia em que a perdi... Como nos vendem a ideia que é normal... acontece.. continuamos nos treinos... 6 meses depois tive um sentimento de que talvez existisse um problema! Procuramos ajuda... e por sorte fomos parar a alguém que foi decisivo para o que afinal era mesmo um problema... Depois de meses de comprimidos e exames... chegou o momento da verdade... Recordo-me ainda hoje daquele dia em que as lágrimas me caiam pelo rosto e que sem reacção disse ao meu marido... e se não for possível?! Ele com a calma do costume.. disse.. se não for não é.. a vida continua.. estás a fazer um drama!!! Achei que talvez estivesse a fazer uma tempestade num copo de água...mas sentia que algo não batia certo... No meio de muitas consultas... encaminharam-nos para uma especialista... Ser infértil ainda é um tabu... e para mim também o era.. Ainda longe de imaginar o caminho que iria percorrer... e os altos e baixos psicológicos que nos afectam nestes momentos segui o conselho.. marquei a consulta e lá seguimos os dois de avião para a outra ponta do país. Na mala de mão apenas levava incertezas que no regresso trazia cheia de requisições de exames... mas com a certeza de ter sido esclarecida e que tínhamos alguém que nos iria ajudar a percorrer este caminho... Depois de todos os exames de volta ao aeroporto e a mais uma viagem de incertezas ou de confirmações... fui calada o caminho todo, cheia de dúvidas e de incertezas... Toda a minha vida havia criado a ilusão de que quando quisesse engravidar seria fácil... como é que não era assim? E se não dependesse só de mim? E se nunca conseguisse? E se o meu marido quisesse muito ser pai? Seria justo manter um casamento e privá-lo disso? Até onde estaria disposta a ir? Quantos anos? Quanto dinheiro? E se a solução de preencher o vazio de não ser mãe passasse por outras alternativas? Adoptar? Inseminação com óvulos ou espermatozóides de outra pessoa? Eram questões que me surgiam e me faziam girar... Habituada a conseguir tudo o que queria.. vi-me confrontada com algo de que por muito que me esforça-se poderia não conseguir... Chorei muito.. chorei muitas vezes sozinha... apesar de todo o amor, apoio e compreensão do meu marido.. mas mesmo assim...tudo estava em causa... até mesmo as coisas mais simples me levantavam dúvidas... Valeria a pena trabalhar arduamente para ter uma casa maior? para quê? E poupar a pensar no dia de amanhã? para quem? Chegados ao hotel, a chorar e entre soluços em que nem eu percebia metade do que dizia perguntei ao meu marido... E se o problema for meu? E se precisarmos de que alguém nos dê metade do seu ADN? E se nunca conseguirmos? É o defeito da formação em gestão... estava habituada a ter certezas de tudo e para todos os cenários... e ali estava perdida... depois de uma conversa que não durou mais de meia hora... estava cheia de certezas... Cada casal deve definir até onde está disposto a ir... uns preferem ir definindo... mas eu preferi definir tudo antes de saber o resultado!!! Decidimos que só teríamos um filho se fosse nosso, que não iríamos adoptar e eu decidi o tempo máximo que me iria submeter a tratamentos sem lhe dizer nada. Foi no dia de São João de 2010 nunca me hei-de esquecer... Entramos no consultório os dois e soubemos que dificilmente iríamos ter um filho só com treinos mas que nada estava perdido... claro que eu perdi a esperança por completo.. mas eu sou assim.. positiva para os outros... negativa no que me toca... Nessa noite jantamos no centro do Porto e de seguida fomos para os Aliados.. havia um concerto de Taxi!!! Para os mais distraídos é uma banda dos anos 80... Abraçados levamos com o alho-porro dos que alheios à minha infelicidade festejavam... Não falamos mais sobre isso.. No dia seguinte voltamos para a nossa casa... sentei-me na cozinha e disse-lhe olha... vamos tratar disto em Setembro... vou acabar a minha pós-graduação e depois logo vemos... afinal fazer inseminação não é algo que se faça de ânimo leve...e na altura não tínhamos o dinheiro todo para o fazer!! Na minha cabeça fazia contas para ver como iria fazer... nesses 2 meses poupamos em tudo... até na comida!!! Em Setembro lá estava... decidida vamos lá... e depois de um Outubro em que dei mais injecções em mim própria do que um enfermeiro já deu quando acaba o curso... chegou finalmente o dia.. 4 de Novembro!! Saí da clínica com os meus bebes... para os perder a 18 de Novembro... Chorei e voltei a fumar... agora teria de esperar cerca de 3 meses para o voltar a fazer... nem sabia se queria voltar a fazer aquilo tudo.. Em Dezembro nunca jantamos em casa... não conseguia estar sozinha... ao fim de 3 anos sem beber álcool na passagem de ano... encharquei o meu ser...sentia-me perdida!!